Monday, February 05, 2007

Eu e Lydia discutíamos sempre. Ela era uma sedutora e isso irritava-me. Quando íamos jantar a qualquer sítio, eu podia ter a certeza que ela fazia olhinhos a um tipo do outro lado da sala. Quando os meus amigos me vinham visitar e Lydia estava presente, apercebia-me que a sua conversa se tornava cada vez mais íntima e sensual. Ela sentava-se sempre ao pé dos meus amigos, colocando-se o mais perto possível deles. O meu gosto pela bebida irritava-a. Ela gostava de sexo e esse meu pendor não me ajudava nada. «Ou porque estás demasiado bêbado para foder à noite, ou porque estás demasiado doente para o fazer de manhã», dizia ela. Lydia podia enfurecer-se se eu bebesse uma garrafa de cerveja à sua frente. Nos separávamo-nos, pelo menos, uma vez por semana - «Para sempre» -, mas arranjávamos sempre maneira de nos encontrarmos. Ela tinha acabado de esculpir a minha cabeça e ofereceu-ma. Quando nos separávamos, punha a cabeça no meu carro, a meu lado, no banco da frente, ia até casa dela e deixava-a frente à porta, cá fora. Depois telefonava-lhe de uma cabine pública: «A puta da cabeça está em frente da tua porta!». Aquela cabeça ia e vinha sem parar...

Charles Bukowski, Mulheres