Wednesday, March 21, 2007

Cena imortal do cinema

Monday, February 05, 2007

Eu e Lydia discutíamos sempre. Ela era uma sedutora e isso irritava-me. Quando íamos jantar a qualquer sítio, eu podia ter a certeza que ela fazia olhinhos a um tipo do outro lado da sala. Quando os meus amigos me vinham visitar e Lydia estava presente, apercebia-me que a sua conversa se tornava cada vez mais íntima e sensual. Ela sentava-se sempre ao pé dos meus amigos, colocando-se o mais perto possível deles. O meu gosto pela bebida irritava-a. Ela gostava de sexo e esse meu pendor não me ajudava nada. «Ou porque estás demasiado bêbado para foder à noite, ou porque estás demasiado doente para o fazer de manhã», dizia ela. Lydia podia enfurecer-se se eu bebesse uma garrafa de cerveja à sua frente. Nos separávamo-nos, pelo menos, uma vez por semana - «Para sempre» -, mas arranjávamos sempre maneira de nos encontrarmos. Ela tinha acabado de esculpir a minha cabeça e ofereceu-ma. Quando nos separávamos, punha a cabeça no meu carro, a meu lado, no banco da frente, ia até casa dela e deixava-a frente à porta, cá fora. Depois telefonava-lhe de uma cabine pública: «A puta da cabeça está em frente da tua porta!». Aquela cabeça ia e vinha sem parar...

Charles Bukowski, Mulheres

Wednesday, January 17, 2007

As minhas vestes são negras e amarrotadas, como a alma de um pecador.

Monday, December 18, 2006

(...)as pescarias de baleias constituem hoje em dia um refúgio para a infinidade de tipos românticos, melancólicos e despistados, que fogem com asco às inquietudes febris do mundo moderno em busca de um pouco de sentimento entre o pez e a gordura de uma baleia.

Herman Melville, Moby Dick

Monday, December 11, 2006

O Último Grande Herói ou Ensaio Sobre o Herói de Acção no Cinema

Os filmes de acção são um pouco mal vistos nos círculos mais importantes do cinema. Os críticos e os pseudo-intelectuais não gostam de falar dos heróis de acção; para eles, interessam mais os filmes a preto e branco, a exploração do cariz sentimental e telúrico das personagens com o contexto espaço-temporal que integram e outras coisas deste tipo que só eles é que gostam de discutir. Contudo, o cinema de acção ocupa um lugar fulcral nos círculos cronológicos da sétima arte. E até dariam um interessante ensaio.

De início, o cinema de acção limitava-se a algumas histórias simples e aos géneros da ficção-científica, dos westerns e dos film noirs. Pelo meio haviam as raras excepções que confirmam a regra, especialmente com a adaptação de alguns heróis literários: o Sherlock Holmes ou o Tarzan, por exemplo.



Não era então um cenário animador - o cinema de acção era automaticamente truncado pelas convenções moralistas e conservadoras dos anos 40 e 50. A ficção-científica era um género menor, utilizado (leia-se abusado) vezes sem conta como metáfora anti-comunista (as invasões constantes do "planeta vermelho" dizem-vos alguma coisa?) em plena guerra fria; os westerns também tinham o seu quê de propaganda, fiél ao sonho americano, ao nascimento da nação e às lutas com os índios, esteriotipados como usurpadores do direito ao progresso; e os film noir eram "banais" histórias policiais. Por isso, para nós, amantes da violência gráfica, viver nos anos 50 teria sido uma seca.

Nos anos 60 o panorama começava a mudar com o aparicemnto dos dois primeiros heróis de acção - o Santo e o James Bond. Mesmo assim o segundo vinha directamente da literatura. Por isso, as coisas só começaram a mudar mesmo nos anos 70. A fase de ouro do cinema clássico de Hollywood tinha acabado - os filmes eram quase obras formatadas, feitas em linhas de série e a saturação atingiu o público. Socialmente, a situação também não era animadora - o Vietname revoltava os jovens, o recente movimento hippie desafiava as convenções instaladas e nascia a contra-cultura. Como pontas-de-lença deste movimento aparecia um grupo fundamental para a história do cinema - os movie brats, um grupo de jovens que viriam agitar o marasmo cinematográfico.

Francis Ford Coppola, Martin Scorcese, Brian de Palma, Steven Spielberg... Estes jovens realizadores, marcados pelo contacto socio-político que se vivia, cansados do cinema clássico e inspirados pelo cinema de autor europeu, injectaram no cinema vitalidade, novas convenções, novos moralismos e... violência gráfica e sexo. Nascia o cinema contemporâneo como hoje o conhecemos. E o cinema de acção. Até o western tinha mudado, com os italianos a transformarem-nos em apologias violentas - o western spaghetti.



Era também nos anos 70 que um então desconhecido realizador revisitava o western clássico Rio Bravo e transformava-o num action flick urbano - Assalto À Esquadra 13. John Carpenter era esse jovem cineasta e criava assim o primeiro filme de acção puro e duro.

Com o passar dos anos iam caindo as barreiras uma a uma. Os explotation movies, a banalização da pornografia (Garganta Funda, anyone?)... já tudo era possível no cinema e ninguém achava estranho. Por isso, o cinema de acção atingiu o seu auge nos anos 80. E os eighties foram do caraças.

Nesta década, o cinema de acção atingiu o extremo - sem sentimentalismos, histórias complexas ou outros desvios de atenções. Nasciam os verdadeiros action heroes, onde tudo o que era necessário eram explosões, tiros, mortes, sangue e sexo (não necessariamente por esta ordem). As histórias não tinham que fazer muito sentido nem serem muito complexas. Aliás, havia só uma história que depois era transformada recorrentemente. Era a década de Arnold Schwarzenneger, Sylvester Stallone, Chuck Norris, Steven Seagal, Jean Claude Van Damme e Dolph Lundgren.



Hollywood só tem um objectivo em vista na sua linha de horizonte: a facturação. Extrema. E sem limites, de preferência. Por isso, explora os seus filões exaustamente. Assim, o action flick descambou em algo completamente ridículo, quando passou de simples divertimento a objecto capitalista. Apostados em transformarem aqueles filmes descomplexados e descontraídos em grandes obras-primas, Hollywood inflou os filmes de acção de pretensiosismo obsceno e criou os blockbusters como hoje os conhecemos.

Claro que um fogo-de-artíficio é muito mais bonito do que uma simples explosão. Mas também é muito mais fútil. Por isso, o povo saturou-se rapidamente. E os action heroes desapareceram.

Não é por acaso que os blockbusters têm vindo a perder cada vez mais espectadores. É preciso fazer qualquer coisa em relação aos filmes de acção. E a solução pode estar numa série que tem feito furor por todo o mundo - 24. Jack Bauer é o último grande herói de acção. E pode vir a servir de exemplo a todo o cinema de acção dos próximos anos.

È certo que o formato televisivo de 24 beneficia de pormenores que o cinema não dipõe: a possibilidade de terminar sempre com um cliffhanger de apertar o coração, por exemplo. Mas os trunfos que falo não são esses. 24 cruza na perfeição um argumento inteligente, com os tão na moda twists constantes e, mais importante que tudo, a humanização do herói. É que agora, o herói de acção já não é um super-polícia capaz de matar cem capangas com um cotonete. Basta vermos os recentes casos de adaptações de super-heróis ao grande ecrã de sucesso - Super-Homem, Homem-Aranha, Hulk.. Tudo super-heróis com dilemas existenciais.

Por isso, o 24 pode e deve ser o futuro do cinema de acção - o próximo take. E ter heróis-polícia que não se importam de assassinar o Dennis Hopper a sangue-frio como vendeta pessoal também ajuda.

Tuesday, November 28, 2006

Juventude Em Marcha

"Nha cretcheu, meu amor, o nosso encontro vai tornar a nossa vida mais bonita por mais trinta anos. Pela minha parte, volto mais novo e cheio de força. Eu gostava de te oferecer 100 000 cigarros, uma dúzia de vestidos daqueles mais modernos, um automóvel, uma casinha de lava que tu tanto querias, um ramalhete de flores de quatro tostõe. Mas antes de todas as coisas bebe uma garrafa de vinho do bom, e pensa em mim. Aqui o trabalho nunca pára. Agora somos mais de cem. Anteontem, no meu aniversário foi altura de um longo de pensamento para ti. A carta que te levaram chegou bem? Não tive resposta tua. Fico à espera. Todos os dias, todos os minutos, todos os dias, aprendo umas palavras novas, bonitas, só para nós dois assim à nossa medida, como um pijama de seda fina. Não queres? Só te posso chegar uma carta por mês. Ainda sempre nada da tua mão. Fica para a próxima. Às vezes tenho medo de construir estas paredes eu com a picareta e o cimento e tu, com o teu silêncio. Uma vala tão funda que te empurra para um longo esquecimento. Até dói cá dentro de ver estas coisas más que não queria ver. O teu cabelo tão lindo cai-me das mãos como erva seca.
Às vezes perco as forças e julgo que vou esquecer-me."


Não sou particular admirador da obra de Pedro Costa, nem tão-pouco do seu último filme, o tão aclamado Juventude Em Marcha. Não é um mau filme nem Pedro Costa é um mau realizador, antes pelo contrário. Mas há certas coisas no seu cinema que não me convence. Mas não é isso que interessa. Interessa é esta carta de amor que Ventura tenta meter na tola de Lento durante todo o filme.

Monday, October 16, 2006

O umbigo

O umbigo é a cicatriz da nossa existência.