Sunday, February 19, 2006

A Irmã Lúcia

A transladação da Irmã Lúcia do Carmelo para Fátima que está hoje a invadir os canais generalistas da nossa televisão faz tanto sentido quanto pôr açúcar na Coca-Cola. Posos dizer que aguardo ansiosamente por qualquer casamento transmitido em directo pela TVI, uma cremação pela SIC, ou uma execução por cadeira eléctrica na RTP.
Não em lixem. E não estou aqui a pôr em causa a fé das pessoas, nem tão pouco o milagre de Fátima (desde que não oiça padres a virem à televisão dizer que a Irmã Lúcia passou a sua vida a fazer passar a voz da Nossa Senhora que lhe falou quando era gaiata, quando todos sabemos que ela não podia dar entrevistas ou falar em público sem autorização prévia das altas patentes do clero, não fosse comprometer as suas descrições das visões, como já o fizera no início); o que estou a pôr em causa é mediatizarem uma transladação, criando inclusive uma vasta rede de merchandising que inclui cachecóis comemorativos ou amuletos especiais. Só falta a action figure a preceito.
Mas pior que isto tudo é o que a SIC fez; enquanto as outras estações e desenrascam da melhor maneira que podem, entrevistando pessoas de parcas palavras na rua (Entrevistador: Acha que a Irmã Lúcia era uma ligação mais próxima a Deus? Entrevistada: Sim Entrevistador: Não quer desenvolver? Entrevistada: Não), a SIC teve uma ideia de génio e resolveu o problema de uma assentada: convidou para comentador aquela ímpar figura que é o Roberto Leal, um brasileiro que os brasileiros não querem lá e um português que nós, portugueses, não queremos cá.
Agora sim, todo este circo à volta da transladação faz sentido.